Bem-querer

É pela porta da entrada

Que espero a chegada

Do meu Pai e Salvador

É dentro das paredes de cimento

Que ouço o Teu ensinamento

É Teu para sempre o meu amor

É em frente à Tua imagem

Que peço força e coragem

Para o caminho ainda a percorrer

É no rosário entre meus dedos

Que Te entrego meus segredos

E Te agradeço todo o bem-querer.

O medo é gigante

Vou subindo os degraus

Com medo e cautela

Galhos também são paus

Antes livre que numa cela

Cuidado nunca é pouco

Para quem nasceu medroso

É melhor parecer louco

Que um fraco corajoso

O terraço parece diminuto

Quando o medo é gigante

O horizonte saiu-nos astuto

E a coragem continua distante.

A Enfermeira (Poesia Infantil)

Desenho: Lucília Mendes

A enfermeira Rosa

Trata bem dos seus doentes

Ajuda a tirar as dores

E deixa todos contentes

Começa cedo a trabalhar

Para não deixar os doentes à espera

Não esquece de ninguém

Que antes lá estivera

Faz curativos

Dá injecções

Espalha sorrisos

E conforta corações.

Falsa Intenção

Sabes, quando estavas a meu lado

E num abraço apertado

Dizias que eu era o teu mundo?

Agora sei de fonte segura

Que a mentira não perdura

E nunca permanece no fundo

Sabes, quando eras carinhoso

Sempre o mais atencioso

E preocupado comigo?

Descobri a muito custo

Que nunca foste justo

Nem sequer um amigo

Sabes, quando andava enganada

A sentir-me a mais amada

O centro da tua atenção?

Nas pancadas que levei

E nas dores que chorei

Percebi a tua falsa intenção.

Dias sem inspiração

O céu está nublado

O dia mais pesado

Preciso de claridade

A luz traz-me saciedade

O vento não vai em conversa

Passa sem um cumprimento

A chuva cai dispersa

O frio está no seu momento

Nestes dias sem inspiração

E da pouca vontade

Entrego-me sem reclamação

À tão aclamada ociosidade.

Pai Eterno

Foi a ingratidão e o queixume

Que atiçaram o lume

Da falta de agradecimento

Foi a escassa oração

Sem o pedido de perdão

Que me causam este lamento

Tu és complacente

Estás sempre presente

Sendo eu não merecedor

Pai, perdoa os meus actos

Pelos contantes maus-tratos

Para com o Teu amor

Minha luz é sempre a tua

Seja qual for a rua

Tua mão sempre me guia

Deus, meu Pai eterno

Maior amor paterno

Obrigado pela Tua vigia.

Carroça vazia

Tanto nariz empinado

Para tão fraca altivez

Tão pouco carinho e cuidado

O que esta gentalha nos fez

Não se dão com a ralé

Nem descem do salto alto

Aos poucos perco a fé

Que escorreguem no asfalto

Tão pouca primazia

Reles seres de fraco bandulho

São como a carroça vazia

Que faz imenso barulho.

A nossa Novela

Estás de jeitinho encabulado

Um tolo apaixonado

Não sabes como agir

O amor tem das suas

Faz-nos loucos nas ruas

Só conseguimos sorrir

Desdobras a atenção

Falas com o coração

O carinho sabe a canela

Os abraços demoram mais

Os olhos brilham como cristais

Escrevemos a nossa novela.

Casa dos meus sonhos

A casa dos meus sonhos

Tem um quintal, verde sem fim

E a árvore dos medronhos

Fica mesmo no meio do jardim

Na minha casa perfeita

Tenho cercas de madeira

A entrada é mais estreita

Lá nasceu uma laranjeira

As telhas do meu telhado

Simples como toda a habitação

Protegem o meu legado

Rodeadas de vegetação

Da porta da rua

Vê-se a estrada de terra batida

De noite a vizinha é a lua

Na casa da minha vida.

A folha do Caderno

De um jeito doce e terno

Escreveste no caderno

O quanto gostas de mim

Fiquei meio sem jeito

Com uma alegria no peito

Que nem perfume de jasmim

Foi escrito com muito cuidado

Um texto bem elaborado

Uma declaração de amor

Saber-te assim tão sentimental

Com o coração no estendal

Provou-me que tens algum valor

A folha que te falta no caderno

Tem um significado eterno

Vou guardá-la com rigidez

O que a tua mão escreveu

Foi o que o teu coração leu

Quando me viste pela primeira vez.

A Inveja

O que tens? Estás inquieto

Tens alguma comichão

Pareces que subiste ao tecto

E caíste depressa no chão

Porque olhas de soslaio?

Pareces estar sempre à escuta

Ouves algum papagaio

Ou sabes de alguma disputa?

Já sei do que deves padecer

De ti já não tenho piedade

A inveja é um osso duro de roer

Não preciso da tua falsa amizade.

Hoje tropecei

Hoje não levei a mão ao peito

Andei confusa, andei sem jeito

Hoje não soube simplificar

Nem consegui explicar

Porque o meu dia ficou desfeito

Hoje tropecei em todo o lado

Caminhei no lugar errado

Perdi o sentido de orientação

Não encontro a razão

Do que me fez divagar

E em todo o lado tropeçar.

Mentira ou Verdade

Parece mentira

Que o mundo não gira

E eu sem nada saber

Não sei se é verdade

Que ter má vontade

Impede de crescer

Parece mentira

Quem aos outros tira

Mais enche o seu saco

Não sei se é verdade

Quem vive da vaidade

Acaba num caco.