A AUTORA

sábado, 31 de outubro de 2020

Sozinha na Viagem

 


Perco-me no labirinto

Assoberbada com o que sinto

Tinha memorizado o trajecto

As pistas e o seu aspecto

Agora sinto-me a boiar

Os pés não querem caminhar

É triste ficarmos em suspenso

Nosso amor tornou-se tenso

Não damos os mesmos passos

Já esquecemos os abraços

Tu vês um plano horizonte

Eu ainda vejo a ponte

Não queres comigo atravessar

Preferes mais rápido chegar

Pois eu escolho apreciar a paisagem

Mesmo que faça sozinha a viagem


quarta-feira, 28 de outubro de 2020

O Tempo tinha Tempo

 


Tenho saudades de um tempo que não era apressado

Que sentava, esperava e passava um bom bocado

Sem se atrever a reclamar pela boa lentidão

Tenho saudades das horas mais vagarosas

A pressa gostava de parar para apreciar as rosas

O tempo tinha tempo e ainda sobrava tostão

 

Tenho saudades de quando o telefone estava preso

Aquele simples fio, manteve o nosso cérebro ileso

Eramos mais felizes não sendo dependentes

Tenho saudades das ruas repletas de miúdos

Com brincadeiras ensinadas pelos graúdos

O tempo tinha tempo e peças sobresselentes

 

Tenho saudades dos domingos de páscoa no jardim

Dos vizinhos que conviviam na rua, porque era assim

Da confraternização sem um ecrã incluído

Tenho saudades dos sujos trabalhos manuais

De escrever palavra a palavra os nossos ideais

O tempo tinha tempo e não era tempo perdido


terça-feira, 20 de outubro de 2020

Amar como as verbenas

 



Amasse eu como quem respira adrenalina

E o mundo se curvaria à minha passagem

Amasse eu como o brilho nos olhos de uma menina

Seria minha a descoberta da perfeita viagem

 

Pudesse eu amar sem regras de etiqueta

Deixaria de lado as angústias quotidianas

Pudesse eu amar com a audácia de quem faz gazeta

E as minhas teorias deixariam de ser insanas

 

Soubesse eu amar, ignorando as mentes pequenas

Teria contribuído para o aumento da felicidade

Soubesse eu amar, resistente, como as verbenas

Seria primavera em todos os cantos da cidade

 

Amo a quem ama outro alguém

A que raio de amor me fiz seguidora

Amo a quem não sabe que lhe quero bem

E vivo ansiando o dia em que sairei vencedora


quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Palavras em excesso


Sofro de excesso de palavras acumuladas

Fogem-me da alma e deitam-se alinhadas

Insistem em se manter em rima constante

Reclamam que de outra maneira seria ultrajante

Pedem-me que siga, sempre, poetizando

Que as escreva tão bem como Fernando

Tenho receio da enorme, e medonha, responsabilidade

Viver a poesia é carregar, por vezes, a soturnidade

Tem dias que me fazem girar como um carrossel

Tamanha é a pressa de se verem escritas no papel

Os poemas nascem de um clique emocional

Impossíveis de travar e de imperceptível sinal

Ainda não sou poeta, nem a meio caminho vou

Os versos são um néctar que em mim se enraizou

 

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

A minha Oração da noite (repost de 2017)

 

Imagem: Internet


Senhor meu Deus obrigado

Por mais um dia terminado

Pelo seguro regresso ao lar

Perdoa a minha incerteza

Os momentos de fraqueza

Onde me deixei duvidar

 

Senhor obrigado pelo sustento

Que me provém o alimento

E me faz útil na sociedade

Hoje não conheci a doença

Graças à Tua presença

Obrigado pela generosidade

 

Meu Deus perdoa a lamúria

E quando deixo a fúria

Toldar a minha mente

Graças pela Tua paciência

Por me livrares da demência

Por mais um dia decente


quarta-feira, 7 de outubro de 2020

O Mundo é Insólito

 


Cultiva-se em demasia a indiferença

E muitos ainda caem no conto do vigário

Chega a ser inacreditável quem diz tudo o que pensa

Mas o mundo é insólito até prova em contrário

 

Cultiva-se, desalmadamente, o desapego emocional

Criam-se costumes incoerentes e alienados

Há os que julgam que já perceberam o sinal

E os que vivem convencidos que já foram coroados

 

Cultiva-se, sem fundamento, a mania da perseguição

Seguem-se leis aprovadas por pseudo-soberanos

No fim de contas ninguém segue a instrução

Porque só se regeram pela cor dos panos

 

Cultiva-se o trajecto no caminho de asfalto

Mas foi a terra batida que os criou

Cultiva-se a ostentação bem lá no alto

E esqueceram-se que o bem nunca se plantou