A AUTORA

sexta-feira, 28 de maio de 2021

O meu Deus é recto

 


Por vezes tenho medo de iniciar a caminhada

Sinto a fraqueza dos que desistem à primeira

Nessas alturas dou por mim numa luta desarmada

Então ergo as mãos numa oração desesperada

Peço ao meu Deus que me livre de qualquer rasteira

 

O medo insiste em juntar-se ao trajecto

É tão espaçoso e difícil de despachar

Digo-lhe que não faz parte do projecto

Que o meu Deus é sempre recto

Mas ele tem argumentos duros de derrotar

 

Os meus passos são rápidos e nervosos

O raciocínio perde-se com as minhas lamúrias

Peço ao meu Deus actos mais corajosos

Vou crescendo com a coragem dos ansiosos

E guardando no peito todas as minhas fúrias

 

No meu Deus encontro a paz e o aconchego

A minha dor fica calma, quase adormece

Não oiço barulho, sinto um enorme sossego

Ser filha do meu Deus é o melhor emprego

Não há melhor tarefa que construir uma prece



terça-feira, 25 de maio de 2021

Pisar os Calos

 


Se te pisam os calos intencionalmente

Mesmo com dor segue em frente

Nunca digas para onde pretendes seguir

Há quem te queira acompanhar apenas para te denegrir

Guarda no coração os teus planos e desejos

A quem muito te pergunta responde com bocejos

Quem cala nem sempre consente

Apenas quer evitar certa gente

Ouvir palavreado chato e pretensioso

Vindo da boca de um mentiroso

É dose pesada de puro enfado

Para a qual ninguém está vacinado

Deixa-os pensar que nos conhecem os passos

Que nos vigiam as vitórias e os fracassos

Nós vamos avançando a ritmo produtivo

Em total silêncio em busca do objectivo


sexta-feira, 14 de maio de 2021

Inútil Papelada

 


Procuro avidamente nas minhas anotações

Recordo-me que já te escrevi angustiada

As palavras que leio não passam de sermões

Necessito reorganizar esta inútil papelada

 

Lembro-me que já tinha anoitecido

A penumbra e o frio estavam de soslaio

Escrevi-te como quem procura algo perdido

Acompanhada pela vivacidade de um catraio

 

Era madrugada quando cessei a escrita

E, juro, guardei nesta gaveta onde procuro

Acredito que o universo por vezes me irrita

Para saber o quanto o meu temperamento é duro

 

Se me lembrasse do que escrevi na missiva

Iria dizer-to até o fôlego me abandonar

Sei apenas que eram frases inofensivas

Escritas para quem, gratuitamente, me quis magoar


domingo, 9 de maio de 2021

Faustino Sucateiro

 



O senhor Faustino, que há muito passou os setenta

Levanta-se cedo, apesar dos entraves que a idade acalenta

A pensão é baixa e mal dá para a mercearia e para a farmácia

O que o levou a tentar desenrascar-se com alguma audácia

Recolhe, de quem não precisa, o ferro velho para a sucata

Leva num atrelado preso à bicicleta, uma cena um tanto caricata

A mulher sempre trabalhou na agricultura, sem regalias para a reforma

Não ter uma pensão para ajudar, é algo de que não se conforma

Um ou dois dias por semana ainda labuta na terra poeirenta

O que lhe pagam não é muito, mas onde tapa já esquenta

Já tem fama de sucateiro, mas o Faustino não se importa

De manhã vai para o ferro velho, à tarde trabalha na horta

O filho, único e desnaturado, ganhou o mundo ainda rapazote

Nem no natal dá as caras, envia uma carta e um simples pacote

O senhor Faustino e a mulher já se acomodaram à ingratidão

O dia foi abençoado se não faltou saúde nem um pedaço de pão

De manhã cedo o atrelado segue caminho, guiado pelo seu condutor

O Faustino trata o ferro velho como os pincéis na mão de um pintor


quarta-feira, 5 de maio de 2021

Fé e Coragem

 


Anseio a fé dos que caminham sem enxergarem o chão

E a coragem dos que lutam desarmados

Anseio a fé dos que aceitam atravessar na escuridão

E a coragem dos que sorriem mesmo estando magoados

 

Anseio a fé dos que esperam por quem já se atrasou

E a coragem dos que falam sempre a verdade

Anseio a fé dos que amam a quem já os enganou

E a coragem dos que trabalham ladeados de ociosidade

 

Anseio a fé dos que saltam desconhecendo se chegarão a cair

E a coragem dos que choram com medo

Anseio a fé dos que decidiram que nunca vão fugir

E a coragem dos que vivem sem conhecerem o enredo


domingo, 2 de maio de 2021

Dia da Mãe ♥

 

(imagem da internet)

Mãe não pede, não exige, não reclama
Mãe só vive para aqueles que mais ama
Mãe não quer saber se o sol não vai brilhar
Mãe só descansa quando o seu filho pára de chorar
Mãe é quem dá sem pedir em troca
Mãe é quem se for preciso tira da sua boca
Mãe é aquela que nos enxuga as lágrimas quando teimam em cair
para o nosso rosto voltar a ver sorrir.

♥♥♥

Com um sorriso rasgado
E uma lágrima a cair
Mãe é este ser delicado
Que não tem um só jeito de sentir

Com os braços sempre à espera
Do primeiro desgosto do seu rebento
Mãe é o único porto de abrigo
Para o seu filho que está em tormento

Com uma mão sempre em alerta
Para guiar no meio da escuridão
Mãe é quem abdica do filho
Para no seu lugar sofrer a desilusão

Mãe não se descreve em palavras
Por mais belas que sejam de escrever
Mãe são os gestos e os silêncios
Que se traduzem no amor que tem para oferecer.

♥♥♥

Carrega uma vida no ventre

Abdica de tudo o que tem

Tristeza admite que não sente

Quem a conhece, chama-a de Mãe

 

O dia nunca termina

Para a defensora do bem

Combater o mal é a sua sina

Na guerra usa o apelido de Mãe

 

Segura no colo com todo o carinho

O pequeno rebento que há-de ser alguém

Ajuda a traçar o caminho

Porque o melhor guia dá pelo nome de Mãe

 

Atravessa qualquer estrada

Em busca do filho que não tem ninguém

A luta trava-a desarmada

Porque sofrer é a vida de Mãe.

♥♥♥

É a terra para a semente

Que vai crescer protegida

É a água que mata a sede

Ao pequeno começo de vida

 

É a estrada que guia os passos

Num caminho que já foi o seu

É os sorrisos e os abraços

Mais as estrelas do céu


É cada lágrima que insiste em cair

Do rosto do seu rebento

É a força que parece fugir

Em cada difícil momento

 

É a mão que leva amparada

O fruto do seu amor

É quem protege da trovoada

E enche o coração de calor

 

É o nosso maior tesouro

É quem sempre nos vai querer bem

É a prata e o ouro

Com um nome tão simples, Mãe!