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sábado, 14 de março de 2020

A mercearia do Ti António

Imagem: Internet
Na rua mais antiga da minha localidade
Existe uma mercearia, já com muita idade
Ainda se fazem as pesagens à mão
E a balança tem o seu jeito de ladrão
O Ti António é o único merceeiro
Sempre bem-disposto e prazenteiro
Gosto da simplicidade do estabelecimento
Do cheiro a humanidade no atendimento
O pão é sempre fresco e estaladiço
E gosta de vir acompanhado de chouriço
Na mercearia não se conhece o calote
A fruta tira-se directamente do caixote
Vende-se a crédito, no livro anotado
Mas só a quem não deixa chegar a fiado
O sorriso do Ti António é o cartão de visita
Embrulha o bacalhau amarrado com uma fita
Ainda não aderiu às novas tecnologias
Só quando for obrigado a tais ideologias
Os miúdos deliram com tanto rebuçado
Bem acamadinhos num cartucho de papel acastanhado
Fecha a loja cedo, no horário de inverno
Mas às sete da manhã já faz contas no caderno
A mercearia do Ti António um dia vai fazer falta
Quando a, por agora fraca, mentalidade da malta
Reconhecer que um simples bom dia sorridente
Fazem valer até um aumento do preço corrente

16 comentários:

  1. Maravilhoso. Contam-se pelos dedos as mercearias do género dessa do Ti António que ainda vivem, sobrevivem, ou existem neste Portugal.

    Talvez exista uma ou outra nessas pequenas aldeias quase familiares. E mesmo assim, só se a Aldeia distar muito de uma grande superfície.

    Existindo tem o meu apreço e aplauso

    Um feliz fim de semana

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    1. É verdade Ricardo, há muito poucas mercearias como antigamente.
      Obrigada, beijinhos!

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  2. Fantástico! Fez-me recuar à minha infância! Que era muito assim!
    -
    Sinto uma brisa saudar-me ao alvorecer. [Poetizando e Encantado]
    -
    Beijo, e um excelente fim de semana

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  3. Um belo poema, a recordar-me algumas mercearias que conheci há muitos anos atrás.
    Abraço e bom fim de semana

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  4. Sinceramente adorei esta poesia. Fez-me voltar à minha meninice, onde era tal como descreve! Obrigada
    -
    Sinto que o tempo vai ficando escasso
    -
    Beijo e um excelente Domingo!

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    Respostas
    1. Era tão boa a nossa infância.
      Obrigada Cidália, beijinhos!

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  5. Fez-me recordar as mercearias dos meus tempos de criança.
    Obrigado por esta maravilhosa poesia.
    Boa semana
    Beijinhos

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  6. Grande sensibilidade poética para encontrar poesia
    numa mercearia que por não ter rival inflacionava
    os preços... Srrsssss...
    Mas, de facto, a simpatia e o carinho são muito
    importantes.
    Lindo poetizar.
    Beijinhos
    ~~~~~

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  7. Agora que arranjei um pouco de força e vontade para vir aqui, sou surpreendido pela belíssima peça de poesia, inclinada para para uma realidade que já foi, por mim vivida, a cheirar a folclore, mas linda que se farta (passe a linguagem pouco apropriada). Gostava de saber onde vai buscar tanto encanto poético e até real, quando, nos anos oitenta, já poucas mercearias existiam com estas características, nomeadamente os tais livros dos «fiados»... e os cartuchos (embalagens) de papel pardo...

    Parabéns,
    JM Ferreira

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    1. Olá Sr. José
      Eu ainda sou do tempo do Ti Neca e do Ti Horácio!
      Obrigada pelas suas palavras, beijinhos

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  8. Tenho pena que o livro que tem em seu poder, com o título «DANÇAS E USANÇAS», não inclua este poema, porque cabe perfeitamente no conteúdo que o mesmo trata. Sei que o tema não veio na altura da sua edição... paciência!

    JM Ferreira

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