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sexta-feira, 26 de junho de 2020

Sentada nos degraus (Ermelinda)

Nos degraus de pedra, da casa pequena

Sentada com um cesto no regaço, serena

Está a Ermelinda, que já vai nos oitenta

Sempre activa, mas tal idade não aparenta

Hoje remenda as meias, repletas de buraquitos

Diz que dão muito jeito para fazer manguitos

O marido, uma tristeza, está agora acamado

Foi do trabalho duro, sem folga, nem feriado

P’ra quem lhe passa à porta, tem sempre um sorriso

Ainda trata da casa, vai fazendo o que é preciso

A filha, casou, e foi morar na cidade

Vem, volta e meia, ajudar nalguma dificuldade

Os vizinhos, amigos de toda uma vida

Acodem-lhe quando se sente mais perdida

Apesar da vista já fraca, gosta de bordar

Ninguém a ensinou, aprendeu sozinha a praticar

Nada falta ao marido, por muito que já lhe custe

O trabalho não é nada que a assuste

Apesar da volta que a vida tomou

Não reclama e nunca esquece o que passou

Conta ao marido as, poucas, novidades que sabe

Os anos ensinaram-lhe que o bem sempre cabe


terça-feira, 23 de junho de 2020

Às Escondidas

Na rua onde moramos, já toda a gente descobriu

Viram-te passar, ainda de madrugada

Muitos ouviram da boca de quem te viu

Cada um conta como sentiu

Mas a verdade por nós ainda está guardada

 

Clamam que nos amamos às escondidas

Certamente escondemos algo obscuro

Até afirmam que temos as almas perdidas

Que de nada adianta preces arrependidas

Que o nosso amor foi muito prematuro

 

A intriga e a coscuvilhice alheia

Não atingem quem cultiva a paz interior

Podes continuar a vir à hora da ceia

A quem nada esconde, não teme a cadeia

De cabeça erguida, assim quer o amor


domingo, 21 de junho de 2020

Mar de Turbilhões

Nas vicissitudes da vida que escolhemos

Nem sempre nos apercebemos

Do quanto fomos eloquentes

As difíceis e, nem sempre astutas, decisões

Jogaram-nos num mar de turbilhões

Esperamos ser resgatados como indigentes

 

A claustrofobia do futuro, ainda incerto

Faz-nos conviver bem de perto

Com o fracasso do desejado sucesso

Angustiamos por uma resposta milagrosa

Com um desenlace feliz, de heroína corajosa

Mas tudo o que temos é o sonho do progresso

 

Resta-nos regressar à base antecipadamente

Assumir que, p’ra já, nada está coerente

E repensar um método mais eficaz

A sorte, essa já não nos conhece

Já esgotámos a última prece

O amanhã, quiçá, nascerá mais capaz


quinta-feira, 18 de junho de 2020

Cegueira generalizada


A cegueira tomou conta da humanidade

Deixaram-se, tristemente, cegar pela futilidade

Renunciaram à partilha e à entreajuda

Mesmo agindo errado, ninguém muda

Rasgou-se, desajeitadamente, o livro da boa educação

Criou-se, idioticamente, um mundo virtual de ostentação

A busca do, sempre constante, bem material

Levou à extinção do ser humano real

Mundo aos bocados, pedaços de estupidez

A ignorância é generalizada, perdeu-se a sensatez

O caos, a desgraça e a má conduta

Abrem os jornais, são notícia astuta

Esqueceu-se a saudade do tempo ajuizado

De fazer o bem, sem nada ser esperado

Será necessária uma intervenção superior

Ou seremos capazes de recultivar o amor?


segunda-feira, 15 de junho de 2020

Porto de Chegada

O caminho é pequeno e eu já o sei de cor

Mesmo diminuto o terreno, preciso do Teu amor maior

Conheces meus passos, sabes o meu caminhar

Já me apanhaste aos pedaços, sem nunca me julgar

És o porto de chegada, és a fé e a esperança

Abençoa-me cada alvorada, ensina-me como a uma criança

Espero que sempre me oiças, prometo falar a verdade

A minha fé por vezes baloiça, mas nunca foge à humildade

Já conheces as minhas palavras, apressadas, quase a gaguejar

Acredita nada têm de bravas, querem apenas ouvir-Te perdoar

Deus meu, é tão pouco o simples agradecimento

Serei sempre filho teu, estarei efectivo no Teu regimento


terça-feira, 9 de junho de 2020

Portugal



Portugal, és tempero
és sabor e tradição
Portugal, és o desespero
daqueles que temem pela nação

Portugal, história de valentia,
de heróis e de um povo valente
Portugal, és frio e maresia,
és descobridor de tanta gente

A tua bandeira eu venero,
porque ser português é ser lutador
Portugal de ti eu espero
ouvir o fado em qualquer cantor

Soltem as amarras
Portugal não teme a guerra
Icem as bandeiras
Portugal ganhou o céu e a terra


Levanto a mão com orgulho
E canto por quem merece a minha voz
Portugal, por ti fazemos barulho
Portugal és de todos nós

Levo a alma de bandeja
Por um povo que navegou o desconhecido
Portugal, não importa onde esteja
Meu coração estará sempre contigo

Portugal de memórias, com passado
Terra de quem aprendeu a lutar
Portugal és um país idolatrado
Por quem nesta vida sabe como é difícil ganhar



Portugal
Um sorriso num beijo
Um sonho, um desejo
Um pedaço de céu
Naquele que é meu
E de todo o maior,
No silêncio do mar
Ele é do melhor
Na arte de sonhar.

Portugal
É
p’la tua bandeira
Que juro saudade
Honra e glória
Pela tua história
De sã liberdade.


Portugal
Um suspiro!
Um grito de dor
Meu amor
Porque tenho por ti
Tamanho respeito
E porque me deito
Sem querer sonhar
E ao acordar
Nem por bem nem por mal
Dou comigo à janela
A mirar Portugal!


segunda-feira, 8 de junho de 2020

Pão torrado



Saboroso como a manteiga no pão torrado

Invulgar como o caramelo salgado

Assim é o sentimento que tenho por ti

Quente e aconchegante como a braseira

Doce e natural como o fruto da figueira

É como me sinto desde que te vi

 

Quero abrir as asas que não tenho

Dizer-te a que horas venho

Dizem os entendidos que sofro de amor

Quero dizer-te lamechices ao ouvido

Um apaixonado é um doido varrido

Só os loucos arriscam tamanho valor


quinta-feira, 4 de junho de 2020

Mente que me amas


Mente que me amas perdidamente

Assume a mentira com convicção

Mente que me veneras diariamente

E, quem sabe, deixará de ser ficção

 

Mente que pensas no meu bem-estar

Faz bem querer o bem sem contrapartida

Mente que só a mim consegues amar

O amanhã é sempre um recomeço da vida

 

Mente que sofres com a minha ausência

Insiste na falta que eu te faço

Mente que completamos a melhor essência

A boa mentira ocupa pouco espaço

 

Mente que o amor somos nós os dois

E leva a paixão junto com o ardil

Mente que não puseste o carro à frente dos bois

De tanto mentir acabaste por ficar senil


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