Nos
degraus de pedra, da casa pequena
Sentada
com um cesto no regaço, serena
Está
a Ermelinda, que já vai nos oitenta
Sempre
activa, mas tal idade não aparenta
Hoje
remenda as meias, repletas de buraquitos
Diz
que dão muito jeito para fazer manguitos
O
marido, uma tristeza, está agora acamado
Foi
do trabalho duro, sem folga, nem feriado
P’ra
quem lhe passa à porta, tem sempre um sorriso
Ainda
trata da casa, vai fazendo o que é preciso
A
filha, casou, e foi morar na cidade
Vem,
volta e meia, ajudar nalguma dificuldade
Os
vizinhos, amigos de toda uma vida
Acodem-lhe
quando se sente mais perdida
Apesar
da vista já fraca, gosta de bordar
Ninguém
a ensinou, aprendeu sozinha a praticar
Nada
falta ao marido, por muito que já lhe custe
O
trabalho não é nada que a assuste
Apesar
da volta que a vida tomou
Não
reclama e nunca esquece o que passou
Conta
ao marido as, poucas, novidades que sabe
Os
anos ensinaram-lhe que o bem sempre cabe