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quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Como as velas de um moinho


Sinto a maldade nas entranhas
E já não considero estranhas
As más atitudes que cometo
Luto contra esta enfermidade
A cobardia é menor que a ruindade
Mas hei-de vencer, eu prometo

Do silêncio tentei ser aliada
Mas não me valeu de nada
Continuo no, mesmo, mau caminho
A maldade apoderou-se de mim
Não consigo, nem sei, pôr-lhe um fim
Sinto-me à roda, como as velas de um moinho

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Amor de várias maneiras


Doce como um bolo de laranja
Fresco como a chuva de verão
Por vezes ácido como a toranja
Macio como um lençol de algodão

Calmo como a brisa da manhã
Quente como o sol do meio-dia
Mantém o corpo e a alma sã
Com um gostinho de rebeldia

O amor sente-se de várias maneiras
E vive-se consoante a necessidade
Pode encontrar-se nas asneiras
Ou vivê-lo sem nenhuma assiduidade

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Sofrer de Tolice


Tolo aquele que se deixa levar
Quando pode pelo seu pé caminhar
Seguindo por caminhos dúbios
Tolo aquele que, para fugir à morte
Torna-se adepto de qualquer sorte
E embrenha-se sempre em distúrbios

Tolo aquele que fala em demasia
Não prima pela cortesia
Chega a nunca nada dizer
Tolo aquele que crê cegamente
Já não distingue quem lhe mente
De tolice nunca deixa de sofrer

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Tropecei na Malvadez


Tropecei destrambelhadamente
Nas fracas palavras que me dizem
Será que ignoram o que a minha alma sente?
Ou serão devotos daquilo que maldizem?

A queda podia ter sido uma fatalidade
Com tamanha raiva proferida
Lamento esta triste e gratuita maldade
E tão abundante gente enxerida

Aguentei, pouco firme, mas com audácia
Recuso-me a ceder perante a ignorância
Fazer ouvidos moucos, tem eficácia
Retira ao perpetrador alguma da sua arrogância

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Amor Absente


Muita gente alega viver de amor
De amar de fogo e calor
Tipo história linda de novela
Muita gente finge transbordar de amor
Vivem na mentira sem pudor
No fundo estão pior que uma favela

Muita gente ensina o amor ao desbarato
Não prepara a matéria, nem faz um trato
Acreditam que se ensina o que não se sente
Muita gente pensa que o amor são migalhas
Iludidos por não conhecerem as batalhas
Acabam a viver um amor absente

sábado, 19 de outubro de 2019

Morri de tristeza


Ontem morri de tristeza
Sem sequer um aviso de recepção
Parti sem nenhuma certeza
Ainda desconheço a principal razão

Ontem morri de tristeza
Abandonei o barco em alto-mar
É tão mais fácil alegar lerdeza
Que assumir o leme e navegar

Ontem morri de tristeza
E só eu chorei por mim
Ninguém viu a minha fraqueza
Nada mais há p'ra lá do fim

Ontem morri de tristeza
A cobardia ganhou o fraco combate
A coragem acabou na pobreza
E eu parti sem tentar um empate

Ontem morri de tristeza
Mas a minha alma ainda vagueia
Todo o meu corpo é pura leveza
E apenas o vazio me rodeia

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

O Amor virou Mendigo


Com roupas velhas e sapatos rotos
Andar atabalhoado, como os loucos
Passa assustado, sente-se em perigo
Já não fala nem sorri como outrora
Não sei nem conheço onde mora
É o amor, dizem que virou mendigo

Foge como um bicho do mato
Já não acredita no bom trato
Foi abandonado sem compaixão
O amor aprendeu a viver escondido
Ninguém o deu como desaparecido
Arrasta a sua tristeza pelo chão

Há quem diga que ama incondicionalmente
Que vive de amor diariamente
Mas só mentem de cara lavada
O amor já não se lembra do passado
Do tempo em que amar era sagrado
A angústia tornou-se muito pesada

Num dia no final de julho
Alguém lhe deixou um embrulho
Mesmo com receio o amor abriu
A fotografia de um bébé rosadinho
E um obrigado num recadinho
Fruto de um casal que o amor uniu

A alegria voltou ao seu olhar
O sorriso acabou por se rasgar
O amor não tinha perdido o jeito
Decidiu regressar à humanidade
Aos poucos reintroduzir a bondade
E corrigir os corações com defeito

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

A força pediu demissão


O silêncio e o vazio profundo
Decidiram habitar no meu interior
Diariamente sinto e vejo que me afundo
Cobardemente assumi que não sou lutador

A força que me fazia rasgar a ociosidade
Há muito que pediu a sua demissão
Coloquei no jornal a publicidade
Mas ninguém se candidatou à função

Em breves instantes ganho o primeiro assalto
E tenho vislumbres de como é ter coragem
Ainda passo a maior parte caído no asfalto
O sonho de ser alguém ainda é uma miragem

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Comprei um Girassol (Poesia Infantil)


Fui com a minha Mãe comprar vegetais
Fomos ao mercado que fica perto do cais
Os vendedores ajudam-nos a escolher
São simpáticos e gostam de vender

Comprámos também frutas deliciosas
Para fazer sobremesas saborosas
Gosto de vir ao mercado municipal
Comprar produtos sempre ao natural

Na banca das flores acabei por reparar
Num vaso com um girassol que parecia brilhar
Era de um amarelo vivo sem fim
Pedi à Mãe para o comprar para mim

Quando cheguei a casa com o girassol
Coloquei-o na janela para apanhar sol
A tarde esteve de muito calor
E eu fiz companhia à minha nova flor

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

O meu Pai Nosso


Pai Nosso, Tu que conheces minha dor
Tu que diariamente ouves meu clamor
Graças Te dou por não me julgares
Pai Nosso amparo dos desafortunados
Rei dos que precisam ser governados
Graças Te dou por sempre me auxiliares

Pai Nosso, Tu que vês a desgraça dos Teus filhos
Oriunda daqueles que se perderam nos trilhos
Traz de volta a humanidade e a compaixão
Pai Nosso obrigado pela boa semente
O bom fruto continua a criar boa gente
Graças Te dou pela magnânima criação

Pai Nosso que nos colocas como iguais
Perdoa os que querem sempre mais
Derrubando os que lutam pela igualdade
Pai Nosso ao receberes o nosso pedido
Dá-nos somente o que for merecido
Graças Pai pela Tua divindade

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

A Tempestade


O dia converteu-se numa tempestade
Frio e chuva à vontade
A escuridão veio à boleia forçada
A ventania quer arrancar brutalmente
Qualquer vestígio de gente
Insiste numa enorme derrocada

Os poucos, mas bravos, peões
Assentem lutar como leões
Mal sabem que a tempestade é atroz
Ter só coragem não é viável
O corajoso tornou-se dispensável
A trovoada nunca fica sem voz

Os abrigos ainda se conservam de pé
A força da tempestade não quebrou a fé
Há que fazer frente em unanimidade
O poder da luta revestido de medo
Ainda é para alguns um segredo
Mas não há herói sem pusilanimidade

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Asas nas Orelhas


Tenho anjos com asas nas orelhas
São melhor abrigo que as telhas
É um amor para lá da atmosfera
Os animais semeiam a fidelidade
Sem barreiras nem desigualdade
Ensinam a amizade sincera

Tenho anjos com quatro patas
E nós descendentes dos primatas
Não lhes chegamos aos calcanhares
Os animais ouvem sem interrupção
Oferecemos o braço, mas querem só a mão
São seres de paixões invulgares

Tenho anjos com focinho peludo
De cuidado macio como veludo
Animais são pedaços de alegria
Protectores e vigilantes naturais
Não aparentam, mas sabem sempre mais
Todo o amor que dão é da sua autoria

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Baile da Despedida


Perdi o sapato, mas continuei descalça
Apesar do aparato, não perdi a valsa
O chão estava frio e nada aconchegante
O salão quase vazio, de pobre semblante

A pouca audiência que estava a assistir
Não conhece a decência, nem sabe aplaudir
Mentes fechadas, a transbordar de intrigas
Atitudes manchadas, que só causam brigas

O baile da despedida continuou apagado
Nem à hora da partida ficou animado
Vazio o encontramos aquando da chegada
Vazio o deixamos na hora da debandada

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