
O pastor Serafim
Não sabe que o mundo tem fim
Pensa que as terras por onde passa
E lhe servem de praça
São o começo e o final
Da sua vida e da sua prole animal.
O Sol ainda não abriu a janela
E já o pastor segue em fileira
O seu rebanho vai pela viela
No caminho que os leva à ribeira.
Os sonhos ainda aparecem
Porque os ideais nunca se esquecem
Mas o Serafim finge não os conhecer
É que estar vivo sem viver
Por muito que não se queira mostrar
Há sempre quem acabe por notar.
Então disfarça-se a verdade
Para um homem de meia idade
Poder o seu rebanho conduzir
E pensar que o seu sonho acabou por se cumprir.
O cajado não deixa enganar
O destino que o Serafim tinha traçado
O pai foi quem o ensinou a usar
Para não deixar morrer o legado.
Sentado à sombra da meia tarde
Olha o rebanho, sua família fiel
Nem o Sol nos olhos lhe arde
Qual pintura a pincel.
O badalo ajuda o pastor
A controlar o que tem de maior valor
E na hora do regresso a casa
O Serafim quase nem mexe uma asa
Basta assobiar a sua melodia
Que o seu rebanho sabe que acabou o dia.
O caminho de volta é feito quase vendado
Tantas são as vezes que é pisado
O Serafim guarda os seus amigos até ao dia seguinte
E recebe a noite como um simples pedinte.